
Por Vanuccio Pimentel *
Desde quando assumiu o Governo de Pernambuco, a governadora Raquel Lyra tem demonstrado uma forte tendência de ser uma gestora técnica e com foco na eficiência do gasto público. Essa característica tem aspectos positivos no que se refere à organização das contas públicas e na melhoria de indicadores.
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No entanto, traz algumas debilidades na esfera política, especialmente na coordenação política do governo. E quando me refiro ao governo, não estou tratando apenas da sua equipe de secretários e técnicos, mas da estrutura política que sustenta o governo.
Antes de tudo, é preciso entender que o nosso sistema político demanda a formação de coalizões legislativas. O governador do Estado – da mesma forma que o presidente da República – necessita de uma base de apoio coesa e organizada para ter um governo minimamente estável.
Dessa forma, o governador do Estado além de ser um gestor da máquina pública também é alçado automaticamente à condição de coordenador de uma coalizão política. Essa tarefa de coordenação é sempre indelegável, pois não há como transferir esse poder a um subordinado e a ausência do chefe do Executivo na coordenação política traz sempre inúmeros problemas. Um exemplo clássico é o caso da ex-presidenta Dilma Rousseff, que foi tragada e destituída por uma crise política que se iniciou com a recusa de coordenar a coalizão de apoio.
A ausência da governadora na coordenação política já teve consequências. Como já expliquei em artigo anterior aqui no Blog Cenário, a liderança de João Campos nas pesquisas foi muito favorecida pela ausência da governadora na coordenação política do próprio governo.
Recentemente, mais duas situações expuseram a fragilidade da coordenação do governo na Assembleia Legislativa. A primeira foi a saga do projeto de lei 2692/2025 que autorizava a contratação de empréstimo do valor de 1,5 bilhão de reais. A segunda situação foi a criação da CPI da Publicidade.
No caso do projeto de lei 2692/2025, a controvérsia era totalmente política. Muito mais organizada do que a base do governo, a oposição conseguiu fazer muito barulho e atrasar por seis meses a tramitação do projeto, que ao final, foi aprovado em seu texto original. Mesmo possuindo maioria numérica, o governo não consegue se organizar estrategicamente na casa.
A criação da CPI da Publicidade foi outro exemplo do caos na gestão da coalizão. Novamente, a oposição mais coesa e organizada, protagonizou uma implosão – ainda que muito breve – da base do governo. Tomando a liderança de vários partidos que estavam na base do governo e controlando a CPI. As decisões judiciais posteriores desfizeram o desarranjo, mas novamente a fragilidade do governo ficou evidente.
A questão que se coloca agora é se a governadora pretende assumir o controle da coordenação política do governo. Em 2026, não será apenas a base parlamentar que precisa estar coesa, mas os 70 prefeitos filiados ao PSD e os demais filiados aos partidos coligados. Em ano eleitoral, será fundamental ter o controle e coordenação da sua base de prefeitos se não quiser enfrentar deserções.
O oportunismo é a marca mais forte e persistente na política brasileira. A presença da governadora como coordenadora política da sua reeleição é que poderá impedir a existência de deserções e a bagunça em sua base de apoio.
Uma base tão grande de prefeitos precisa ser coordenada e alimentada politicamente. Sem isso, é possível que muitas surpresas ainda venham a acontecer.
*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita