Por Vanuccio Pimentel*
Em contraponto à análise feita para analisar o desempenho eleitoral da governadora Raquel Lyra e dos partidos aliados, reconstruí os mapas das conquistas realizadas pelo prefeito João Campos (PSB) e os seus partidos aliados no pleito municipal deste ano.
A primeira consideração a ser feita era de que todos esperavam uma debandada de prefeitos para a base da governadora. Esse é o um fenômeno comum e que ocorreu várias vezes em Pernambuco quando houve mudança de grupo político no poder. Apesar desta expectativa, o fenômeno não se repetiu nestas eleições, um fato que por si já é interessante de ser analisado.
O PSB é um partido que historicamente tem muita capilaridade no território pernambucano, especialmente pelo fato de ter estado inúmeras vezes no poder. Isso facilita a dispersão do partido ao longo de todas as regiões do estado como sinaliza o mapa abaixo.
A distribuição das conquistas é mais dispersa ao longo do estado sem concentrações em bolsões de municípios (clusters), essa tendencia reforça a ideia da capilaridade histórica do partido no estado. Outro ponto de destaque reside nos colégios conquistados pelo PSB. O Recife é a joia da coroa, mas outros colégios importantes foram conquistados como Garanhuns que teve uma disputa simbólica importante por ter sido um confronto direto entre o PSB e o PSDB. São Lourenço da Mata também ganha destaque por ser mais um colégio da região metropolitana mantido pelo PSB.
As vitórias se ampliam quando são incluídos os partidos aliados que dão muito mais corpo ao desempenho do prefeito João Campos.
O quadro geral é bem mais positivo do que aquele conquistado pela governadora Raquel Lyra. Em primeiro lugar porque mostra muito mais capilaridade ao longo do estado e não apresenta redutos eleitorais como os verificados no desempenho da governadora. O tamanho dos colégios é outro ponto de destaque, pois são claramente maiores do que os conquistados por Raquel Lyra.
O gráfico abaixo apresenta a distribuição dos colégios conquistados de acordo com o tamanho do editorado e a região do estado.
Vale ressaltar, a título de precisão, que os municípios de Bezerros e Belo jardim estão computados nesta análise, pois oficialmente o partido está na base do prefeito João Campos. Mas, como todos sabemos, os prefeitos são ligados ao deputado Mendonça Filho (União) e apoiam Raquel Lyra. Feita a ressalva, ela não altera muito o quadro geral das conquistas obtidas por João Campos (PSB).
A distribuição dos dados sinaliza que o prefeito João Campos conquistou vitórias importantes nas regiões mais populosas do estado. Inclusive no Agreste, que é a base política da governadora. Os dados da governadora serão reproduzidos abaixo para, à guisa de comparação, ilustrar o argumento exposto aqui.
Percebam que as regiões menos populosas são as que a governadora se saiu melhor e obteve conquistas significativas de municípios. Enquanto para João Campos, as conquistas ocorreram em colégios maiores e em regiões com maior densidade eleitoral.
Considerações finais
A primeira consideração é que João Campos obteve uma vitória mais ampla do que a governadora Raquel Lyra. A segunda é de que ele se constitui em um fortíssimo oponente para as eleições de 2026. Caso ele decida ser candidato ao governo em 2026, a governadora Raquel Lyra terá um oponente muito forte e precisará de muito mais esforço político para manter o cargo de governadora.
O tempo joga a favor de João Campos, ele não precisa ser candidato em 2026. Ele é jovem e vem de uma vitória esmagadora no Recife. Cabe a governadora correr atrás do prejuízo e se consolidar como a favorita na disputa.
Por fim, não faz nenhum sentido achar que João Campos não será candidato em 2026 por conta das duas vitórias de Raquel no segundo turno. Ele pode não ser, mas por outras razões. E se for candidato, será exatamente pela força do resultado obtido nestas eleições.
*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita