
Por Vanuccio Pimentel*
As últimas pesquisas de opinião mantém João Campos (PSB) em uma vantagem confortável em relação à governadora Raquel Lyra (PSD). No entanto, algumas ponderações precisam ser feitas. A primeira é que a eleição ainda está distante, a segunda é que a governadora tem feito movimentos importantes, e a terceira, é que fatos imprevisíveis podem ocorrer e mudar o cenário.
Feitas as ressalvas, vou me concentrar em analisar uma região do estado na qual o PSB tem encontrado maior dificuldade de obtenção de apoio nas últimas eleições. O Agreste de Pernambuco tem sido a região mais difícil para o PSB, especialmente o Agreste Central e Setentrional, pelo menos nas últimas três eleições.
O Agreste é o segundo maior colégio eleitoral do estado, atrás apenas da região metropolitana do Recife. Além disso, a região comporta 65 municípios e uma grande diversidade econômica e social.
Isso tudo, transforma a região na mais complexa arena política do estado por conta do número de unidades políticas (municípios), da diversidade das áreas e do número de forças políticas da região. A Assembleia Legislativa espelha bastante a diversidade da região e a sua importância política, o presidente da Assembleia Legislativa Álvaro Porto (PSDB) tem base política no Agreste, assim como o líder do governo Izaías Régis (PSDB) e a deputada Débora Almeida (PSDB). Além da própria governadora Raquel Lyra que construiu sua carreira política na região.
Eduardo Campos foi o líder político que melhor compreendeu essa complexidade. Fez dela o ponto de partida da sua campanha e escolheu como seu vice João Lyra Neto, um político tradicional com fortes bases no Agreste.
Do ponto de vista eleitoral, o Agreste pode ser dividido em duas grandes áreas: o centro-norte que engloba parte do agreste central e setentrional e o centro-sul com o agreste meridional e parte do central. A região centro-norte é historicamente mais conservadora e tende a ser refratária às candidaturas de esquerda. Enquanto a fração centro-sul possui um comportamento eleitoral similar às demais regiões do estado.
Para demonstrar a dificuldade que o PSB enfrenta nesta região, vou utilizar os dados da eleição de 2018 para o Governo do Estado. Naquele pleito, Paulo Câmara (PSB) foi reeleito no primeiro turno com 50,70% dos votos, enquanto Armando Monteiro (PTB) ficou em segundo lugar com 35,99%.
O mapa 1 apresenta todos os municípios do Estado de Pernambuco com a distribuição do percentual de votos válidos recebidos por Paulo Câmara. A estatística utilizada busca evidenciar a concentração espacial nos grupos de municípios com maiores médias (vermelhos) e com as menores médias (azul).

Os municípios em azul correspondem àqueles nos quais Paulo Câmara obteve as mais baixas votações em relação aos demais municípios do estado. A maioria está situada no Agreste, especialmente no Central e Setentrional, concentrados na parte centro-norte da região. Este padrão de votação se repetiu em 2014 e 2018 com Paulo Câmara, e em 2022 com Danilo Cabral.
E se considerarmos as eleições presidenciais, o mesmo comportamento se verifica. Para ilustrar, vou apresentar no mapa 2 a distribuição dos votos de José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais de 2010.

Nesse caso, os municípios em vermelho representam os locais onde José Serra obteve as maiores médias de votação no Estado. Novamente, a região centro-norte do Agreste figura como protagonista. Este padrão de votação começou a se definir em 2006 na eleição de Geraldo Alckmin contra Lula e mantém-se até os dias atuais.
Em resumo, o que pretendo mostrar aqui é que compreender a geografia eleitoral é fundamental para as eleições estaduais. As regiões do estado apresentam particularidades que só se revelam quando se analisa os votos por meio de uma perspectiva geográfica.
É nesta região onde a governadora Raquel Lyra mantém maior base de apoio. E será nesta região que ela vai expandir mais rapidamente sua base eleitoral para as eleições do próximo ano. Estancar as possibilidades de crescimento nesta região deveria ser um movimento tático prioritário para o PSB.
A aposta na região metropolitana como a única fortaleza que impedirá a vitória da governadora não parece se alinhar com a complexidade da eleição estadual. E novamente, como ocorreu em 2022, o Agreste terá um papel chave nas eleições.
*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita